Por que estudar Finanças?

        Finanças é uma disciplina que evoluiu muito nos últimos cinqüenta anos. Sua grande transformação começou na década de 50, quando Markowitz desenvolveu os conceitos que hoje usamos para a diversificação de investimentos, provando matematicamente que não é bom colocar todos os ovos no mesmo cesto. Continuou ainda com Modigliani e Miller, que questionaram tudo o que se sabia sobre estrutura de capital. Na década seguinte nasceria o modelo mais usado até hoje para determinar o custo do capital das empresas, o CAPM. Nos anos 70 veríamos o surgimento do modelo de Black & Sholes, para avaliação de opções e que é utilizado até hoje, bem como o nascimento da teoria comportamental de Finanças (a Behavioral Finance), berço conceitual da Governança Corporativa, o grande assunto dos anos 90.

        Apesar disso, boa parte das empresas e dos executivos parece não tomar conhecimento dessa evolução. Em 1999 dois professores, Graham e Harvey, relataram uma pesquisa (ainda a ser publicada pelo Journal of Financial Economics em meados de 2001) com quase quatrocentas empresas americanas. Seu objetivo era saber em que medida o que se estuda em Finanças é absorvido e utilizado pelos executivos. Entre as empresas que responderam (mais de quatro mil foram contatadas) encontravam-se representantes de diversos setores da economia americana, empresas grandes e pequenas, de capital aberto e fechado, em crescimento e empresas já maduras. Também o perfil do principal executivo de cada empresa foi estudado, considerando-se a sua experiência, tempo no cargo, formação acadêmica e até sua eventual participação acionária na empresa.

        Essas empresas responderam a um extenso questionário que procurava descobrir como tratavam problemas relacionados a três grandes grupos de decisões em Finanças: orçamento de capital, custo de capital e estrutura de capital. Em outras palavras, como as empresas decidiam sobre novos investimentos, como avaliavam o custo dos recursos que utilizavam e como decidiam sobre quanto apresentar, em seu balanço, entre capital acionário e dívida.

        Ficou evidente um comportamento muito heterogêneo por parte das empresas. Enquanto algumas utilizam recursos razoavelmente sofisticados de análise e decisão, outras parecem estar paradas no tempo, utilizando critérios primariamente ultrapassados. Não é exatamente uma novidade. Os métodos adotados pelos executivos freqüentemente apresentam defasagens de décadas para a teoria. Só para citar um exemplo, a consultoria americana Stern & Stewart criou o EVA (Economic Value Added), com sucesso explosivo na década de 90. Novidade? Pois Modigliani utilizava o mesmo conceito ao final da década de 50, pouco mais de trinta anos antes!

        Isso não tira o valor da Stern & Stewart, que foi a responsável pela popularização do conceito, para benefício de executivos e investidores, além de desenvolver uma detalhada metodologia para sua implementação. Fica evidente, porém, que o "calcanhar de Aquiles" de Finanças não está no desenvolvimento da disciplina mas na sua disseminação. Um aspecto que chamou a atenção na análise de Graham & Harvey foi que o tal comportamento heterogêneo das empresas apresentou uma clara relação com o perfil das instituições e de seus principais executivos. Do lado das empresas, as ferramentas mais modernas eram características das grandes e de capital aberto, com seu comando nas mãos de executivos profissionais. Quanto aos executivos, claramente aqueles com formação mais avançada (um MBA, por exemplo) e com menor posição acionária na empresa (profissionais, portanto) formavam o grupo de ponta. Com a abertura dos mercados, consolidação dos grandes grupos e da globalização, não é difícil imaginar o perfil profissional que se espera para o futuro.

        Aí está o desafio: qualificar empresas, através de seus executivos e colaboradores, para a tomada de decisões fundamentais ao desenvolvimento de seus negócios!